2 October 2008
Nove e dez...
Ter esta conversa, pelos dois lados, sempre que for preciso...
Não que esta seja uma dessas ocasiões, até porque ultimamente têm sido todos excepcionalmente queridos comigo... obrigada!
A imagem é parte deste capítulo do webcomic em que ando viciada: Something Positive, de Randy K Milholland.
28 September 2008
8 Coisas...
- usar o teleporte para poder sempre estar com quem quero
- ir à Austrália e à Nova Zelândia (e a vários outros sítios, mas estes estão no topo da lista)
- engravidar (desculpa, Rain...)
- fazer rappel (e possivelmente escalada) numa parede natural
- conseguir retribuir a todas as pessoas que me fazem feliz (Obrigada...)
- ensinar uma certa pessoa a nadar, e re-aprender a andar de bicicleta
- ver aqui outro post do Zack
- saltar uma última vez
E, como sou uma daquelas pessoas que ou são altamente cegas ou irritantemente persistentes... passo o desafio aos suspeitos do costume: Balmoth e Zack. Mas como ainda tenho noção da realidade suficiente para saber a probabilidade de responderem, acrescento ainda a regressada MJNuts, porque tenho curiosidade de saber as suas 8... ;) E a Mireia - prometo esforçar-me por perceber a resposta en catalán...
7 September 2008
For my happiness
if I decide to roam far?
I know who you are,
but I wonder what you'd do...
You're independent,
and maybe that's why I love you
You told me once
you wouldn't fight for me
Though in saying so, you did:
giving me up for my own happiness
made me see that you were it.
And yet I sit and wonder
My heart refuses to heed my brain
I know you want to make this work,
but if the choice comes again...
... Will you let me fly north,
south, east, west,
because for me it's best,
but stay behind to live your life?
Because I'd rather not take flight
if it means leaving you behind
I'd rather not open my wings
and heed the song that my heart sings
I'd rather stay,
flightless and caged,
but stay engaged...
I love that you encourage me to fly,
but please don't hesitate to ask me to stay
because to me happiness is you and I,
no matter what, and come what may.
18 June 2008
Right then
and smelled like a spring day
You felt like the summer night
when I was blown away...
23 May 2008
Linda...
- Fecha a cort
- sshhh... - Pôs um dedo nos meus lábios em sinal de silêncio, e selou-os com o primeiro de uma chuva de beijos rápidos, vagueando-me pela face até ao pescoço. Por um momento fiquei parada, sem conseguir fazer nada a não ser apreciar o tamborilar: dos beijos dele no peito, e das gotas de água nas costas... Senti-lhe a mão a fugir da água, por reflexo, e estiquei a minha para a torneira da água fria, aumentando a torrente.
- Vamos inundar a casa-de-banho! - Já virada outra vez para ele, levantei a mão na direcção da cortina, mas ele agarrou-ma, avançou até ficar encostado a mim, e plantou-a na própria nádega. Enquanto o apertava com força contra mim, quase em bicos de pés, ele desligou as torneiras. Segurou-me as mãos, deu um passo atrás, e o olhar dele não me percorreu, envolveu-me.
- És linda...
E eu senti-me linda, enquanto saiu do chuveiro, ainda de mãos dadas comigo, e me guiou até ao quarto...
... e ainda me sinto linda, aqui deitada no lençol molhado, enquanto me olha dos pés da cama com ar de quem quer guardar o momento para sempre, e repetir tudo outra vez.
Uma parte de mim diz-me que devia lembrar-lhe que tem trabalho para acabar, mas não consigo forçar os lábios a formar as palavras... Tem que ser... Respiro fundo, mas quando abro os olhos está a gatinhar por cima do meu corpo, até estar praticamente deitado. O ar quente que lhe sai da boca acaricia-me o ouvido:
- Amo-te.
E nesse instante estou rendida. Não há mais menina bem-comportada e responsável, não há preocupação, não há dever, não há pensamento.
Só há o meu ser a querer para sempre fazer parte do teu...
9 May 2008
Suave pensamento...
- Também queres ser peluche, é? Olha, somos dois... Vá, anda lá, já que não me deixas ficar aqui a pensar, ao menos deixa-me tirar a tralha dos bolsos! Telemóvel - acabei de sair de ao pé dela, porquê a leve desilusão por não ter mensagens? - ...chaves, aqui na prateleira de cima para um certo bicho não andar a correr pelo corredor fora com elas, carteira, lixo... - Olhei para o papel que tinha na mão, e em vez de um qualquer folheto do Dr. Mamba ou da loja-não-sei-quê, era... um papel branco, dobrado. Desdobro-o, e o coração acelera ao reconhecer a letra. Leio. Levanto os olhos do papel para absorver o que acabo de ler; volto a baixá-los, e leio tudo novamente. O poema, e a mensagem por baixo... duas vezes, essa leio-a duas vezes.
Enquanto esperava que chegasses, saiu-me isto...
por uma vez, abençoo a minha tendência crónica para os atrasos...
Quando chegaste com o peluche, nunca mais me lembrei
sorrio
não sei porquê... ;P
faz sempre os smileys de lado, mesmo quando escreve à mão
Entretanto chegou o resto do pessoal, e já não deu para to entregar. Mas queria que o recebesses, sobretudo depois do que fizeste... depois de tudo o que fizeste, e não estou a falar só do peluche! Obrigada. Obrigada
tive que dar uma meia gargalhada: muito gosta ela desta palavra!
pelo peluche, adorei... nunca tive nenhum tão suave... tal como nunca senti uma pele tão suave como a tua, nem um toque tão carinhoso como o teu... Obrigada! Amo-te mais do que algum dia saberei dizer-te, e só espero um dia poder recompensar-te como mereces
Já recompensaste! Será possível que ela não o veja? que não veja o sorriso nos meus olhos e a leveza do meu passo assim que a vejo? Como esta manhã, quando a vi, lá do fundo, sentada na esplanada... a escrever! A escrever este poema... levantou a cabeça pouco depois, e ficou a ver-me aproximar... De certeza que viu como gostei de a sentir observar-me... admirar-me... Quase tive vontade de desacelerar o passo, para sentir aquele olhar de apreciação por mais tempo... Mas queria estar perto dela, dar-lhe o beijo de bons-dias, e o peluche... Sorrio ao lembrar-me: quase tive que a obrigar a abrir o embrulho! Mas... quando é que ela teve tempo de escrever o resto? E como é que me pôs o bilhete no bolso sem eu dar por isso? Quando fui à casa-de-banho? Não, nessa altura já tinha chegado pessoal... Ela não escrevia isto no meio do pessoal, e não me lembro de ter ficado sozinha... A não ser... quando ficou a guardar a mesa enquanto eu e o João fomos comprar o lanche! Descobri-te! Mas... como é que me meteste o bilhete no bolso sem eu dar por nada? Quando nos beijamos as nossas mãos costumam ocupar-se com outras coisas, e à despedida estavas abraçada a mim, e tinhas o peluche na mão - realmente, não o largaste o dia todo! - mas... que importa? De alguma forma, essas mãos de fada conseguiram surpreender-me outra vez... "tal como nunca senti uma pele tão suave como a tua, nem um toque tão carinhoso como o teu"... ai, pudesse eu tocar-te agora, fazia-te carinhos até o mundo acabar... A minha mão parou, e é então que me apercebo que estava mecanicamente a fazer festas ao gato. Devo-me ter sentado na cama enquanto lia, mas nem dei conta... desta vez, nem o salto do gato para o colo me despertou do sonho com aquela cara...
- Vamos jantar?
- Vou já, mãe...
... primeiro tenho só que mandar uma mensagem...
"Não imaginas como fiquei feliz ao encontrar o teu bilhete! Enquanto me deixares, o meu toque continuará a cobrir de carícias a tua pele suave e alva..."
22 April 2008
Máquina do tempo
...e de repente estou outra vez na esplanada. A saia-calção cinzenta descobre-me o joelho quando cruzo as pernas. Combina com a cor do peluche, que sobressai contra a camisola branca. Ainda não o larguei desde que mo deste, há uma hora. Estou sentada à espera que voltes, nem me lembro bem de onde. Estranhamente, não me lembro exactamente quando foi que tudo isto aconteceu, mas lembro-me da roupa que tinha vestida. Talvez porque não me lembro de voltar a vestir aquela saia, nem sei bem porquê. Sei que estava um dia cinzento, mas não chovia - o meu casaco cinzento não é impermeável. Voltaste. Há conversas à nossa volta, estás a falar com o João, mas é tudo ruído de fundo. O cinzento do lápis destaca-se no branco da página, no poema em cima da mesa colorida. Escrevi-o esta manhã, sentada aqui a tomar café. Cheguei cedo, como de costume. Sentei-me a saborear o momento, os minutos de paz antes de o dia começar realmente, e o poema saiu. Pousei o lápis e fiquei a olhar o vazio, até que o teu andar característico o preencheu. Vi-te lá ao fundo, sorri, e fiquei a admirar-te enquanto caminhavas na minha direcção. Beijaste-me, e ia a abraçar-te quando puseste algo entre nós.
- Que é isto?
- Que é que te parece? É um embrulho.
- Sim, isso vejo eu. Mas...
- É para ti.
- Mas... eu não faço anos, e hoje não é nenhuma data especial...
- Pensava que já te tinha dito que não ligo a números e datas, ligo a momentos.
- Sim, quando eu liguei de mais... - Baixei o olhar, mas tive que o levantar quando me respondeste:
- Como estás a fazer agora, em vez de pegares nisto?
- OK, OK, afinal o que é?
- Abre e vê.
- Oh... Obrigada! É tão fofo... Amo-te, sabias?
- Bah, só dizes isso porque eu te dou peluches queridos.
Normalmente, responder-te-ia com o típico "Mongo!", mas optei por calar-te com um beijo abraçado, e ficámos os dois a sorrir, em pé ao lado da mesa.
Já sentados, olhaste o peluche:
- É para teres alguém para abraçar, quando não estou contigo.
Sentei-me ao teu colo - sempre fomos assim poupados em cadeiras - e ficámos assim os três. Os meus braços à volta do peluche apoiado no meu colo, e os teus por cima dos meus, à minha volta. Em silêncio, porque contigo o silêncio não é incómodo nem estranho, é partilhado... Até que alguém chegou, e começámos na conversa, e tu foste, e voltaste, e... reparei agora no poema, cinza no branco ainda em cima da mesa. Com a surpresa esqueci-me, ainda nem to dei! Agora no meio do resto do pessoal também não dá; fecho a capa para ninguém o ler sem querer. Encosto-me na cadeira, com as pernas a roçar as tuas. A conversa continua à minha volta, mas sem dar por isso desliguei... O meu corpo está presente, mas o pensamento está difuso numa nuvem de felicidade...
Aprecio o cinzento do dia, nem preto nem branco. Mais indefinido, mas mais complexo e mais rico por isso... Aperto o abraço ao peluche, e deixo-me estar, algures entre o passado e o futuro, no cinzento da mistura das memórias e das esperanças... E aprecio a beleza do cinzento da minha vida...
... Não quero abrir os olhos no negro da noite, e ver o branco do lençol onde não estás...
14 April 2008
Writers' block
Estou sentada em frente de um ecrã em branco, a querer escrever a continuação de uma história de amor. Sei como começar o capítulo, mas não como pode acabar. E não consigo deixar-me levar. Já comecei “n” vezes, mas só me vêm à mente passagens saudosas e enredos vazios, que não encaixam com este momento da história, alegre.
Tu não estás aqui. Ou melhor, eu não estou aí. E, de momento, queria tanto estar no mesmo sítio que tu... não só fisicamente, mas psicologicamente, a nível de entusiasmo. Nunca te vi tão empenhado numa coisa como estás nesse curso, nunca te senti tão feliz com o que estás a fazer, e sinceramente... invejo-te isso, porque acho que nunca me senti assim, em termos de carreira. É bom sentir-te assim, entusiasmado, e queria estar mais perto para me poderes contagiar. Procuro inspiração em todos os momentos lindos que me deixaste na memória, mas quando começo a escrever as palavras ganham vida própria e fogem para situações em que só está um, com saudades do outro.
Talvez devesse pegar por aí, mas esta história vive de diálogos, e é difícil ter um diálogo com uma personagem sozinha... Só se começar com um re-encontro... Já que não consigo (ou não me chega) reviver momentos passados, talvez me faça bem projectar sentimentos futuros...
16 March 2008
Dias raros...
São raros, estes dias em que me sinto capaz de brilhar mais que as belezas convencionais. Não sei como surgem, nem porquê, nem quando, mas pouco me importa. Basta-me desfrutá-lo, como uma flor que desabrocha.
6 March 2008
Porto de abrigo
- Não aconteceu nada.
Sorri. - Nem eu esperava que acontecesse. - E era verdade. Mas...
- Quis dizer-to na mesma. - Deu-me um abraço daqueles que são mais apertões do que abraços de facto, e reparou no ecrã.
- Ainda tens muito trabalho para fazer?
- Algum...
- OK... - Tinha-me virado outra vez para o computador, e estava outra vez atrás de mim, com os braços à minha volta, por cima dos meus ombros. Não sei porquê, adora pôr-se assim, quando está descontraída. Encostou a face ao de leve na minha cabeça, e deixou-se estar, em silêncio. Por uns instantes, limitei-me a sentir o peso dela nos meus ombros, a pele que me tocava a orelha, o calor da respiração... Quando abri os olhos, quebrou-se o encanto: o reflexo no ecrã tinha sido substituído pelas imagens que exigiam a minha atenção. Mas ela ainda ali estava, encostada a mim.
- Sabes que tenho que acabar isto...
- Eu sei, e não te quero impedir. Quanto mais depressa acabares, mais depressa te posso ter só para mim. Nem sequer quero distrair-te...
- Ah não?
- Não... - a voz dela tinha aquele trejeito meio-culpado de quando acaba de se aperceber do que estava a fazer. E a mão dela parou de vaguear pelo meu peito. Sorri. Respirei fundo (outra vez), inclinei a cabeça para trás e dei-lhe um beijo na bochecha. Apertei-lhe a mão, e assentei a minha no rato.
- OK, eu afasto-me da tentação...
Sabia que tinha de ser, e que ela não ia longe, mas... havia sempre uma parte de mim que queria continuar a sentir o toque dela...
- Já não devo demorar muito... P'raí meia hora. -Riu-se, e mesmo sem me virar podia adivinhar a expressão dela, a abanar a cabeça, sabendo que demoro sempre mais do que penso.
...
- Enganei-me... - Não me tinha apercebido que ela ainda ali estava. Virei-me e dei com ela encostada à ombreira da porta, ainda a sorrir.
- Então?
- Perguntou-me o que estaria a fazer se estivesse contigo, e eu respondi que estaria a pensar em trocar a mola do sofá. Afinal enganei-me. Se tivesse cá ficado, tinha ficado aqui assim, a ver-te trabalhar.
- Não estou a trabalhar muito...
- Pronto, OK, talvez ficar aqui não seja a melhor forma de não te distrair... Vou tomar banho, e depois trato do jantar, pode ser?
- OK...
"Não aconteceu nada"... Eu não estava preocupado com isso. Confiava nela. Mas soube-me bem ouvir aquelas palavras... talvez lá no fundo tivesse medo de ouvir as outras. Virei a minha atenção para o computador, para o trabalho que tinha para terminar. Não conseguia concentrar-me. Que raio, então agora é que tinha a cabeça às voltas? Voltei a olhar para o ecrã, e desta vez vi o meu reflexo. E apercebi-me que estava menos tenso, que me sentia mais leve. E que não era uma questão de confiança, mas de desilusão. E, desta vez, não tinha havido. Ela não tinha descido na minha consideração. Nem ele. E tinha voltado feliz... uma felicidade serena, calma. Agora que pensava nisso, antes de sair de manhã tinha-lhe notado um nervoso miudinho... Mas quando voltou...! A cara dela, os olhos, o andar... a maneira como se mexia, e como falava... Estava leve - como eu - radiante... e... tão bela...
Levantei-me num ápice, deixei um rasto de roupa do computador até à casa-de-banho, afastei a cortina e abracei-a através do vapor... Encostou-se a mim... Como é bom sentir que vai ser sempre assim...
4 March 2008
Ferro e fogo
Fazes as coisas mais lindas
por mim, e para mim
e sinto que não te retribuo tanto assim
Não tanto quanto devia,
nem tanto quanto mereces
No entanto, todavia
só queria que soubesses
que os poemas que escreveste,
e as canções que me gravaste,
são beijos que me deste,
são sorrisos que abraçaste.
Cada citação, cada palavra,
é mais uma pequena grande parte
do que me deixa marcada,
a querer apaixonar-te
Estás marcado em mim
a ferro quente das tuas mãos
e fogo da tua mente
Nada apaga uma marca assim:
não se vê, mas sei que sente,
que te sente sempre aqui
Por mais que viva,
e que tudo mude,
ninguém me tira o que já vivi,
ninguém me tira a ti.
24 February 2008
Malabarismos
- Hah! Falhaste! - Virei-me a sorrir.
- Queres guerra, é?
- Deves pensar que me metes medo!
- Pois devia... Hei!
- Não estavas à espera de um aviso por escrito, pois não?
- Ah ele é assim? - Desviei a cara. Enquanto tentava ripostar, pelo canto do olho dei por ele a aproximar-se. Comecei a bater os pés; levantei tanta espuma que deixei de o ver.
- Hei! Isso não vale! Agarrar é batota!
- Quem disse? Respira fundo.
- Olha que eu faço-te cócegas!
- Não digas que não avisei! - Voltei à superfície com uma gargalhada; ele também se estava a rir. Ficámos assim um bocado, até os nossos olhares se cruzarem. Desviei o meu, mergulhei a cabeça, passei a mão pela cara para não me pingar sal para os olhos. Abraçou-me por trás, com os braços por cima dos meus. Pôs um dedo no meu queixo e virou-me a cara até estar a olhá-lo nos olhos.
- Há bocado estava a gozar.
- Eu sei... - Sabia que era um meio-sorriso, mas não dava para mais.
- Mas...
Respirei fundo, apertei-lhe o braço com a mão.
- Mas... preferias que não o tivesse dito, mesmo na brincadeira?
- Não sei... Não... Quer dizer... Gosto de ter este à-vontade contigo... e... é bom sentir que podias gostar de mim
- Eu gosto de ti.
- Sabes que não é isso! O que eu quero dizer é que é bom... fazeres-me sentir "apetecível"- riu-se quando formei as aspas com os dedos - ... percebes?
- Pensei que agora que tens namorado te tivesse passado essa mania.
- Qual mania?
- Essa mania de te sub-estimares, e de te mandares abaixo.
- Ei, eu não me estou a mandar abaixo, 'tou só a dizer que sabe bem sentir que me consideras assim... Faz-me bem ao ego... - Desviei outra vez o olhar, encostei a nuca no peito dele, olhos no infinito. Desta vez, deixou-me estar.
- Mas...
- Mas estou feliz com ele, é a primeira pessoa além de ti que me faz sentir assim... especial. E, sim, de momento é o amor da minha vida, e... não vos quero sentir a competir.
- E não é bom teres rapazes a competir por ti? Não te faz bem ao ego?
- Não... não estes rapazes... são demasiado importantes... Não me quero sentir dividida, nem ter que fazer malabarismos... Quero apreciar o que tenho. Poder estar aqui contigo, e poder voltar para casa feliz, e dar cabo de outra mola do sofá
- Vocês não têm cama?
- E fazer-te cócegas, quando dizes disparates desses, e rir-me com ele... Tem um bom sentido de humor, acho que vocês se iam dar bem.
- Hei, eu já há bocado te disse que começo a gostar dele sem sequer o conhecer... Claro que quero conhecer quem te põe assim feliz! - Agarrei-lhe os braços e virei-me de frente para ele:
- Só há um problema. - Foi a vez dele ficar sério:
- Então?
- Então que depois fico tramada: juntam-se os dois a gozar comigo!
Atirei-lhe água para a cara, corri pela rebentação e ao longo da areia molhada, com o vento a acariciar-me a cara e o cabelo molhado a bater-me no pescoço...
... Espero que possa ser sempre assim...
13 February 2008
Um lugar sossegado...
"Mas agora [...], só queria apoiar a cabeça no seu ombro e pedir-lhe que me protegesse, como supostamente fazem os homens com as mulheres quando as amam."Isabel Allende, A soma dos dias
Desaparecer,
fundir-me em ti
Deixar-me envolver
sem pensar no que perdi
nem no que vou ter
Afundar-me,
com os teus braços à minha volta
O teu corpo a amparar-me
agora que estou solta
O compasso do teu coração no meu ouvido,
dominas-me os sentidos
e fazes-me parar
para te respirar.
E deixas-te estar,
em silêncio, todo o tempo que preciso
Como uma pele
vais-me aconchegando,
substituindo a armadura
encardida que vou largando.
7 February 2008
Insonia Inocente
A música rebenta-me nos ouvidos,
não costumo ouvi-la tão alto.
Mas hoje apetece-me sobrecarregar os sentidos,
sentir o ritmo num salto
Ter a música a envolver-me...
Apaguei a luz
Mais uma vez não consigo dormir
Mas hoje estranhamente não me chateia
Fones nos ouvidos, perdida no sentir
desta paz que me rodeia
Balanço ao ritmo de cada canção
fisicamente e na emoção.
Está em aleatório,
a tocar tudo o que tenho:
Cada nota inicial faz surgir uma imagem
neste filme mudo,
sem legendagem.
Os meus lábios formam cada letra,
E nem tenho de me lembrar
que não posso cantar
Porque o estou a fazer,
mas para dentro,
onde tem mais poder.
6 February 2008
Sexto Sentido
Saber quando o outro precisa de um abraço, ou de um aperto na mão, sem ninguém ver.
Saber ter conversas que ninguém ouve, por gestos que mais ninguém vê.
Ter as palavras certas na ponta da língua sem ter que pensar, como remédio pronto a dispensar.
Adivinhar as reacções, antecipá-las e deixá-las vir, porque são inevitáveis. E fazer tudo para ampliar as boas, dançando na sombra da felicidade do outro. E abrir os braços às más, recebê-las e dividir o peso, ou simplesmente trazer o conforto do que vai estar sempre lá.
Conhecer o outro melhor do que ele próprio se conhece, e admirá-lo por quem é. Sem julgar, sabendo que tudo o que ia mudar já mudou, e que é inútil lutar contra o que ficou. E sentir orgulho por nos ter escolhido. Orgulho em quem nos faz sentir. Orgulho e uma gratidão imensa por tudo. Tudo o que conseguimos, tudo por que passámos, tudo o que criámos, tudo o que ultrapassámos - tudo o que somos e vivemos.
Saber de cor os sorrisos, os tiques e os gestos, e ter os dotes mágicos de os fazer surgir do nada.
Completar as frases do outro, dar palavras à frustração indescritível, à fúria impotente e à felicidade emudecedora.
E ouvir os silêncios, entender as palavras que não são ditas, até as que não chegam a ser articuladas em pensamento.
Acalentar a cumplicidade natural e espontânea que surge da convivência e da empatia.
Ainda não estamos lá, mas já estivemos bem mais longe, e parece-me que estamos no bom caminho. Até (ou sobretudo) porque não parecemos ter precisado fazer grande esforço.
Dêem-nos mais uns anos... Até porque ainda há pouco foi dia 2... ;)
18 January 2008
Tacto
A cova atrás dos meus joelhos, onde os teus encaixam tão perfeitamente. As tuas canelas encostadas aos meus calcanhares (é o que dá ser baixinha). As minhas nádegas anichadas na tua virilha, o calor húmido do teu peito nas minhas costas. O oscilar dos nossos corpos ao respirarmos em sintonia, a minha nuca encostada ao teu pescoço, a arrepiar-se com o ar da tua boca que me roça o cabelo. Um braço teu por baixo de mim (“Não te vou esborrachar?” “Ssshh...”), o outro a começar logo abaixo do meu ombro, apoiado no arco do meu corpo até à cintura, onde o teu cotovelo encaminha o antebraço atravessado sobre o meu umbigo, a tua mão repousando ao de leve sobre o meu seio.
Fecho os olhos para te sentir melhor, e só quero ficar assim, abraçada em ti. Adoro a forma como consegues envolver-me, a forma como caibo em ti. A facilidade com que o teu braço dá a volta à minha cintura e me aperta contra ti, nas mais variadas situações.
Abro os olhos, que se fixam na tua mão. Esses dedos finos de pianista que me fascinam desde sempre. (Não sei porquê, na minha mente os teus dedos são sempre exageradamente brancos, apesar de saber que és muito mais moreno do que eu.) Penso na viagem que acabaram de fazer, nos caminhos que percorreram pelo meu corpo. Subitamente, o que me acaricia a nuca já não é a tua respiração, são as tuas unhas. A ponta dos teus dedos que me faz arquear a cabeça para trás. Aproveitas-te desse momento de descuido para me beijares o pescoço, multiplicando o arrepio. A pele de galinha ainda não acalmou, e a ponta do teu dedo traça a linha da minha espinha, até chegar ao cóxis. Apoias a mão inteira na minha virilha e sinto uma mancha de calor que a tua mão me traz barriga acima. Volta a ser só um dedo, que passa no vale exactamente a meio do meu peito, até ao esterno, onde a tua mão me passa pelo pescoço até à face. Uma festa atrás da orelha, pelo cabelo, até descer pela testa e me fechar os olhos... Ainda tens um dedo no meu nariz e já os sinto a pairar à beira dos lábios. Primeiro os dedos, depois os lábios. As nossas mãos ganham vida própria, mas não importa, já nenhum de nós as sente, nem as próprias nem as do outro. Sei que algures sob os meus dedos estão a pele incrivelmente suave do teu rosto e os ossos salientes das tuas omoplatas, o entrelaçado do teu cabelo, a penugem do teu peito, a firmeza das tuas nádegas... Mas não sei onde nem quando, nem o que é o quê.
Só sabemos os votos de amor eterno e profundamente apaixonado que passam directamente entre lábios quentes e línguas molhadas, sem precisar de palavras.
17 January 2008
Gosto
Chocolate negro, a derreter. À temperatura do corpo humano (não sabias mesmo?). Persegue-lo com a língua, enquanto me faz desenhos sobre a pele branca.
Sal a secar, devagar, ao sol. O que resta do sal do mar que escorreu do teu cabelo para os meus lábios quando nos abraçámos. Agora forma cristais, sarapintando de branco a tua pele morena. Mas o padrão é quebrado por uma linha cintilante, traçada pelo percurso da minha língua no teu peito.
Sabes-me sempre a mar. Apesar de não irmos à praia há meses. Sabes-me a fresco, apesar de estares sempre mais quente que eu. Desde a primeira vez que te provei, naquela noite... inesperada. Ficaste-me gravado na memória da língua. E ela lembra-se, e tenho o prazer da antecipação. O prazer de saber o toque polido que vou encontrar no teu ouvido. Do calor húmido da tua boca, que me convida. A suavidade antecipada das tuas pálpebras de encontro aos meus lábios, antes mesmo de as beijar. O comprimento exacto dos teus dedos que conheço antes de os percorrer, como conheço a forma como se vão dobrar.
Sei os contornos do teu corpo, antevejo cada curva, conheço-te as medidas pelo paladar. Pela textura, pela temperatura, pelo sabor, pelo arrepiar. E, no entanto, não me canso nunca de te explorar. De confirmar o sabor de cada célula, e traçar desenhos na tua pele, tremeluzentes ao luar. De olhos fechados, sorvendo-te. E manter viva essa memória, torná-la presente e não passado. E selá-la com um beijo molhado.
15 January 2008
Olfacto
Não resisto a dar-te mais um beijo, de passagem, e deixo ficar o queixo encostado à tua testa mais uns segundos, depois de os meus lábios te terem deixado, nariz enterrado no teu cabelo.
Inspiro profundamente, como se pudesse absorver cada molécula do teu ser, e assim levar-te comigo. A tua essência inconfundível que me entra pelas narinas até ao mais profundo do meu ser. Que me fez enterrar a cara no lençol enquanto ganhava coragem para me levantar, antes de vestir a T-shirt, que é tua. Não conseguia vir-me embora e deixar-te aí, sem trazer comigo uma pequena parte de ti... nem que fosse só o cheiro...
Audição
Ar a vibrar junto ao meu ouvido. Eu sei que é só isso. Mas esse ar foi posto a vibrar pela tua boca. Pelos teus lábios, pela tua língua, pelas tuas cordas vocais. E faz vibrar os ossos do meu ouvido, que fazem disparar neurónios, que... ...me fazem sentir bem. Posso estar de olhos fechados, posso até estar a quilómetros de distância, mas esse som põe-te ao meu lado. Não, mais que isso: as tuas palavras entram em mim. A tua voz aquece-me por dentro, traz-me um sorriso quase sem que me aperceba. E mesmo que as palavras sejam trivialidades, não interessa, porque o que me estás a dizer é “Estou aqui. Está tudo bem. Vai correr tudo bem. Confia em mim. Estou aqui”. E, na verdade, isso é tudo o que preciso de ouvir. É por isso que faço perguntas estúpidas em momentos íntimos (“em que estás a pensar?”). Porque preciso que a tua voz te torne real, e me diga que vais estar sempre aqui.