18 January 2008

Tacto

A cova atrás dos meus joelhos, onde os teus encaixam tão perfeitamente. As tuas canelas encostadas aos meus calcanhares (é o que dá ser baixinha). As minhas nádegas anichadas na tua virilha, o calor húmido do teu peito nas minhas costas. O oscilar dos nossos corpos ao respirarmos em sintonia, a minha nuca encostada ao teu pescoço, a arrepiar-se com o ar da tua boca que me roça o cabelo. Um braço teu por baixo de mim (“Não te vou esborrachar?” “Ssshh...”), o outro a começar logo abaixo do meu ombro, apoiado no arco do meu corpo até à cintura, onde o teu cotovelo encaminha o antebraço atravessado sobre o meu umbigo, a tua mão repousando ao de leve sobre o meu seio.

Fecho os olhos para te sentir melhor, e só quero ficar assim, abraçada em ti. Adoro a forma como consegues envolver-me, a forma como caibo em ti. A facilidade com que o teu braço dá a volta à minha cintura e me aperta contra ti, nas mais variadas situações.

Abro os olhos, que se fixam na tua mão. Esses dedos finos de pianista que me fascinam desde sempre. (Não sei porquê, na minha mente os teus dedos são sempre exageradamente brancos, apesar de saber que és muito mais moreno do que eu.) Penso na viagem que acabaram de fazer, nos caminhos que percorreram pelo meu corpo. Subitamente, o que me acaricia a nuca já não é a tua respiração, são as tuas unhas. A ponta dos teus dedos que me faz arquear a cabeça para trás. Aproveitas-te desse momento de descuido para me beijares o pescoço, multiplicando o arrepio. A pele de galinha ainda não acalmou, e a ponta do teu dedo traça a linha da minha espinha, até chegar ao cóxis. Apoias a mão inteira na minha virilha e sinto uma mancha de calor que a tua mão me traz barriga acima. Volta a ser só um dedo, que passa no vale exactamente a meio do meu peito, até ao esterno, onde a tua mão me passa pelo pescoço até à face. Uma festa atrás da orelha, pelo cabelo, até descer pela testa e me fechar os olhos... Ainda tens um dedo no meu nariz e já os sinto a pairar à beira dos lábios. Primeiro os dedos, depois os lábios. As nossas mãos ganham vida própria, mas não importa, já nenhum de nós as sente, nem as próprias nem as do outro. Sei que algures sob os meus dedos estão a pele incrivelmente suave do teu rosto e os ossos salientes das tuas omoplatas, o entrelaçado do teu cabelo, a penugem do teu peito, a firmeza das tuas nádegas... Mas não sei onde nem quando, nem o que é o quê.

Só sabemos os votos de amor eterno e profundamente apaixonado que passam directamente entre lábios quentes e línguas molhadas, sem precisar de palavras.

17 January 2008

Gosto

Chocolate negro, a derreter. À temperatura do corpo humano (não sabias mesmo?). Persegue-lo com a língua, enquanto me faz desenhos sobre a pele branca.

Sal a secar, devagar, ao sol. O que resta do sal do mar que escorreu do teu cabelo para os meus lábios quando nos abraçámos. Agora forma cristais, sarapintando de branco a tua pele morena. Mas o padrão é quebrado por uma linha cintilante, traçada pelo percurso da minha língua no teu peito.

Sabes-me sempre a mar. Apesar de não irmos à praia há meses. Sabes-me a fresco, apesar de estares sempre mais quente que eu. Desde a primeira vez que te provei, naquela noite... inesperada. Ficaste-me gravado na memória da língua. E ela lembra-se, e tenho o prazer da antecipação. O prazer de saber o toque polido que vou encontrar no teu ouvido. Do calor húmido da tua boca, que me convida. A suavidade antecipada das tuas pálpebras de encontro aos meus lábios, antes mesmo de as beijar. O comprimento exacto dos teus dedos que conheço antes de os percorrer, como conheço a forma como se vão dobrar.

Sei os contornos do teu corpo, antevejo cada curva, conheço-te as medidas pelo paladar. Pela textura, pela temperatura, pelo sabor, pelo arrepiar. E, no entanto, não me canso nunca de te explorar. De confirmar o sabor de cada célula, e traçar desenhos na tua pele, tremeluzentes ao luar. De olhos fechados, sorvendo-te. E manter viva essa memória, torná-la presente e não passado. E selá-la com um beijo molhado.

15 January 2008

Olfacto

Demoro-me um pouco mais que o necessário a enfiar os braços nas mangas, para ter mais tempo a cabeça enfiada na T-shirt. Apesar de não estar com frio, e ter pressa.
Não resisto a dar-te mais um beijo, de passagem, e deixo ficar o queixo encostado à tua testa mais uns segundos, depois de os meus lábios te terem deixado, nariz enterrado no teu cabelo.
Inspiro profundamente, como se pudesse absorver cada molécula do teu ser, e assim levar-te comigo. A tua essência inconfundível que me entra pelas narinas até ao mais profundo do meu ser. Que me fez enterrar a cara no lençol enquanto ganhava coragem para me levantar, antes de vestir a T-shirt, que é tua. Não conseguia vir-me embora e deixar-te aí, sem trazer comigo uma pequena parte de ti... nem que fosse só o cheiro...

Audição

Ar a vibrar junto ao meu ouvido. Eu sei que é só isso. Mas esse ar foi posto a vibrar pela tua boca. Pelos teus lábios, pela tua língua, pelas tuas cordas vocais. E faz vibrar os ossos do meu ouvido, que fazem disparar neurónios, que... ...me fazem sentir bem. Posso estar de olhos fechados, posso até estar a quilómetros de distância, mas esse som põe-te ao meu lado. Não, mais que isso: as tuas palavras entram em mim. A tua voz aquece-me por dentro, traz-me um sorriso quase sem que me aperceba. E mesmo que as palavras sejam trivialidades, não interessa, porque o que me estás a dizer é “Estou aqui. Está tudo bem. Vai correr tudo bem. Confia em mim. Estou aqui”. E, na verdade, isso é tudo o que preciso de ouvir. É por isso que faço perguntas estúpidas em momentos íntimos (“em que estás a pensar?”). Porque preciso que a tua voz te torne real, e me diga que vais estar sempre aqui.