11 November 2007

Visão

Vi-te admirar-me. Naquele momento, não me "comeste com os olhos", não tinhas um ar surpreso, nem aquele teu olhar malandro. Estavas a admirar-me, pura e simplesmente... Ainda hoje, depois de tantos anos, continuas a admirar-me, e descobri-lo nos teus olhos nas mais variadas situações quase me tira a respiração. E tu, que reclamas do sol, continuas a querer ter luz. Queres sentir-me através dos olhos, saber o meu prazer pela forma como me contorço, conhecer o que sinto pelo vermelho-rosado da minha pele. Queres ver-me morder o lábio inferior, e sorrir, em antecipação do que vem a seguir. Queres ver as tuas mãos morenas na minha pele lixiviada, e a pele-de-galinha por elas causada. Queres ver o rasto brilhante onde a tua língua passou, qual rota traçada por terras conquistadas... Queres deixar que os meus olhos, mais rápidos e eficazes que os lábios, te digam o que sinto. Queres absorver-me, guardar em ti uma imagem infinitamente detalhada de tudo o que sou e de tudo o que sinto...
E às vezes pergunto-me: será que te apercebes do quanto o teu olhar me acaricia? Será que sabes que esse olhar que me percorre, absorve e admira, também me toca e me encanta? Que fico enfeitiçada pelo deambular desses teus olhos vagabundos?

... Acho que vou passar a vida toda a tentar causar esse olhar...