9 May 2008

Suave pensamento...

Respiro fundo, e espreguiço-me. Sabe bem chegar a casa. Sento-me na cama para descalçar os sapatos, e não resisto a deitar-me para trás e rever (outra vez) a cara dela. Aquele instante em que a surpreendi perdida nos próprios pensamentos, enquanto toda a gente à volta conversava... Gostava de a ter fotografado naquele momento, captado aquele olhar, a tranquilidade daquele rosto... sem o nervosismo que tantas vezes se apodera dela... E captei, não em filme, mas na memória... Pergunto-me em que estaria a pensar... O gato roça-me as pernas e salta-me para o colo, obrigando-me a voltar à realidade.
- Também queres ser peluche, é? Olha, somos dois... Vá, anda lá, já que não me deixas ficar aqui a pensar, ao menos deixa-me tirar a tralha dos bolsos! Telemóvel - acabei de sair de ao pé dela, porquê a leve desilusão por não ter mensagens? - ...chaves, aqui na prateleira de cima para um certo bicho não andar a correr pelo corredor fora com elas, carteira, lixo... - Olhei para o papel que tinha na mão, e em vez de um qualquer folheto do Dr. Mamba ou da loja-não-sei-quê, era... um papel branco, dobrado. Desdobro-o, e o coração acelera ao reconhecer a letra. Leio. Levanto os olhos do papel para absorver o que acabo de ler; volto a baixá-los, e leio tudo novamente. O poema, e a mensagem por baixo... duas vezes, essa leio-a duas vezes.

Enquanto esperava que chegasses, saiu-me isto...

por uma vez, abençoo a minha tendência crónica para os atrasos...

Quando chegaste com o peluche, nunca mais me lembrei

sorrio

não sei porquê... ;P

faz sempre os smileys de lado, mesmo quando escreve à mão

Entretanto chegou o resto do pessoal, e já não deu para to entregar. Mas queria que o recebesses, sobretudo depois do que fizeste... depois de tudo o que fizeste, e não estou a falar só do peluche! Obrigada. Obrigada

tive que dar uma meia gargalhada: muito gosta ela desta palavra!

pelo peluche, adorei... nunca tive nenhum tão suave... tal como nunca senti uma pele tão suave como a tua, nem um toque tão carinhoso como o teu... Obrigada! Amo-te mais do que algum dia saberei dizer-te, e só espero um dia poder recompensar-te como mereces

Já recompensaste! Será possível que ela não o veja? que não veja o sorriso nos meus olhos e a leveza do meu passo assim que a vejo? Como esta manhã, quando a vi, lá do fundo, sentada na esplanada... a escrever! A escrever este poema... levantou a cabeça pouco depois, e ficou a ver-me aproximar... De certeza que viu como gostei de a sentir observar-me... admirar-me... Quase tive vontade de desacelerar o passo, para sentir aquele olhar de apreciação por mais tempo... Mas queria estar perto dela, dar-lhe o beijo de bons-dias, e o peluche... Sorrio ao lembrar-me: quase tive que a obrigar a abrir o embrulho! Mas... quando é que ela teve tempo de escrever o resto? E como é que me pôs o bilhete no bolso sem eu dar por isso? Quando fui à casa-de-banho? Não, nessa altura já tinha chegado pessoal... Ela não escrevia isto no meio do pessoal, e não me lembro de ter ficado sozinha... A não ser... quando ficou a guardar a mesa enquanto eu e o João fomos comprar o lanche! Descobri-te! Mas... como é que me meteste o bilhete no bolso sem eu dar por nada? Quando nos beijamos as nossas mãos costumam ocupar-se com outras coisas, e à despedida estavas abraçada a mim, e tinhas o peluche na mão - realmente, não o largaste o dia todo! - mas... que importa? De alguma forma, essas mãos de fada conseguiram surpreender-me outra vez... "tal como nunca senti uma pele tão suave como a tua, nem um toque tão carinhoso como o teu"... ai, pudesse eu tocar-te agora, fazia-te carinhos até o mundo acabar... A minha mão parou, e é então que me apercebo que estava mecanicamente a fazer festas ao gato. Devo-me ter sentado na cama enquanto lia, mas nem dei conta... desta vez, nem o salto do gato para o colo me despertou do sonho com aquela cara...
- Vamos jantar?
- Vou já, mãe...
... primeiro tenho só que mandar uma mensagem...

"Não imaginas como fiquei feliz ao encontrar o teu bilhete! Enquanto me deixares, o meu toque continuará a cobrir de carícias a tua pele suave e alva..."

4 comments:

  1. Este tá realmente qualquer coisa!
    Fico feliz por ter a oportunidade de abrir as hostes dos comentários...
    Espero que este texto tenha 90% de realidade. Ah, os peluches começam a fazer sentido.
    :D

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  2. Bem, como a maioria dos meus textos, também este é uma mistura de várias realidades e imaginação... Acredito que os sentimentos são reais, apesar de os pensamentos serem "adivinhados" ...

    Seja como for, obrigada pelos votos e pelos elogios!

    (e peluches fazem sempre sentido!:P)

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  3. Obrigada, obrigada... por tudo! Pelos poemas e pela contemplação. Como é boa a contemplação da felicidade pura.. e dura! ;)

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  4. Obrigada eu... por virares as minhas palavras "contra" mim... Um grande abraço, recheado de votos de felicidade... sentida, não só contemplada! ;)

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