23 May 2008

Linda...

Inclinei-me para trás e deixei a água escorrer-me pela cara. Passei a mão pelos olhos, mas deixei-os ficar fechados. Respirei fundo, e soube-me bem a humidade quente do ar, e o cheiro a champô. Deixei-me estar só mais um instante, a sentir a massagem da força da água a bater-me na cabeça. Ajeitei-me, para que o jacto me batesse na nuca, depois nas costas. Estava a começar a pensar que devia mexer-me, quando entrou na casa-de-banho. Ia a perguntar-lhe, incrédula, se já estava despachado, quando afastou a cortina. Atrás dele, vi a porta da casa-de-banho aberta: tinha vindo direito a mim. Abraçou-me, e senti-o estremecer quando me encostei a ele.
- Fecha a cort
- sshhh... - Pôs um dedo nos meus lábios em sinal de silêncio, e selou-os com o primeiro de uma chuva de beijos rápidos, vagueando-me pela face até ao pescoço. Por um momento fiquei parada, sem conseguir fazer nada a não ser apreciar o tamborilar: dos beijos dele no peito, e das gotas de água nas costas... Senti-lhe a mão a fugir da água, por reflexo, e estiquei a minha para a torneira da água fria, aumentando a torrente.

- Vamos inundar a casa-de-banho! - Já virada outra vez para ele, levantei a mão na direcção da cortina, mas ele agarrou-ma, avançou até ficar encostado a mim, e plantou-a na própria nádega. Enquanto o apertava com força contra mim, quase em bicos de pés, ele desligou as torneiras. Segurou-me as mãos, deu um passo atrás, e o olhar dele não me percorreu, envolveu-me.
- És linda...
E eu senti-me linda, enquanto saiu do chuveiro, ainda de mãos dadas comigo, e me guiou até ao quarto...


... e ainda me sinto linda, aqui deitada no lençol molhado, enquanto me olha dos pés da cama com ar de quem quer guardar o momento para sempre, e repetir tudo outra vez.
Uma parte de mim diz-me que devia lembrar-lhe que tem trabalho para acabar, mas não consigo forçar os lábios a formar as palavras... Tem que ser... Respiro fundo, mas quando abro os olhos está a gatinhar por cima do meu corpo, até estar praticamente deitado. O ar quente que lhe sai da boca acaricia-me o ouvido:
- Amo-te.
E nesse instante estou rendida. Não há mais menina bem-comportada e responsável, não há preocupação, não há dever, não há pensamento.


Só há o meu ser a querer para sempre fazer parte do teu...

9 May 2008

Suave pensamento...

Respiro fundo, e espreguiço-me. Sabe bem chegar a casa. Sento-me na cama para descalçar os sapatos, e não resisto a deitar-me para trás e rever (outra vez) a cara dela. Aquele instante em que a surpreendi perdida nos próprios pensamentos, enquanto toda a gente à volta conversava... Gostava de a ter fotografado naquele momento, captado aquele olhar, a tranquilidade daquele rosto... sem o nervosismo que tantas vezes se apodera dela... E captei, não em filme, mas na memória... Pergunto-me em que estaria a pensar... O gato roça-me as pernas e salta-me para o colo, obrigando-me a voltar à realidade.
- Também queres ser peluche, é? Olha, somos dois... Vá, anda lá, já que não me deixas ficar aqui a pensar, ao menos deixa-me tirar a tralha dos bolsos! Telemóvel - acabei de sair de ao pé dela, porquê a leve desilusão por não ter mensagens? - ...chaves, aqui na prateleira de cima para um certo bicho não andar a correr pelo corredor fora com elas, carteira, lixo... - Olhei para o papel que tinha na mão, e em vez de um qualquer folheto do Dr. Mamba ou da loja-não-sei-quê, era... um papel branco, dobrado. Desdobro-o, e o coração acelera ao reconhecer a letra. Leio. Levanto os olhos do papel para absorver o que acabo de ler; volto a baixá-los, e leio tudo novamente. O poema, e a mensagem por baixo... duas vezes, essa leio-a duas vezes.

Enquanto esperava que chegasses, saiu-me isto...

por uma vez, abençoo a minha tendência crónica para os atrasos...

Quando chegaste com o peluche, nunca mais me lembrei

sorrio

não sei porquê... ;P

faz sempre os smileys de lado, mesmo quando escreve à mão

Entretanto chegou o resto do pessoal, e já não deu para to entregar. Mas queria que o recebesses, sobretudo depois do que fizeste... depois de tudo o que fizeste, e não estou a falar só do peluche! Obrigada. Obrigada

tive que dar uma meia gargalhada: muito gosta ela desta palavra!

pelo peluche, adorei... nunca tive nenhum tão suave... tal como nunca senti uma pele tão suave como a tua, nem um toque tão carinhoso como o teu... Obrigada! Amo-te mais do que algum dia saberei dizer-te, e só espero um dia poder recompensar-te como mereces

Já recompensaste! Será possível que ela não o veja? que não veja o sorriso nos meus olhos e a leveza do meu passo assim que a vejo? Como esta manhã, quando a vi, lá do fundo, sentada na esplanada... a escrever! A escrever este poema... levantou a cabeça pouco depois, e ficou a ver-me aproximar... De certeza que viu como gostei de a sentir observar-me... admirar-me... Quase tive vontade de desacelerar o passo, para sentir aquele olhar de apreciação por mais tempo... Mas queria estar perto dela, dar-lhe o beijo de bons-dias, e o peluche... Sorrio ao lembrar-me: quase tive que a obrigar a abrir o embrulho! Mas... quando é que ela teve tempo de escrever o resto? E como é que me pôs o bilhete no bolso sem eu dar por isso? Quando fui à casa-de-banho? Não, nessa altura já tinha chegado pessoal... Ela não escrevia isto no meio do pessoal, e não me lembro de ter ficado sozinha... A não ser... quando ficou a guardar a mesa enquanto eu e o João fomos comprar o lanche! Descobri-te! Mas... como é que me meteste o bilhete no bolso sem eu dar por nada? Quando nos beijamos as nossas mãos costumam ocupar-se com outras coisas, e à despedida estavas abraçada a mim, e tinhas o peluche na mão - realmente, não o largaste o dia todo! - mas... que importa? De alguma forma, essas mãos de fada conseguiram surpreender-me outra vez... "tal como nunca senti uma pele tão suave como a tua, nem um toque tão carinhoso como o teu"... ai, pudesse eu tocar-te agora, fazia-te carinhos até o mundo acabar... A minha mão parou, e é então que me apercebo que estava mecanicamente a fazer festas ao gato. Devo-me ter sentado na cama enquanto lia, mas nem dei conta... desta vez, nem o salto do gato para o colo me despertou do sonho com aquela cara...
- Vamos jantar?
- Vou já, mãe...
... primeiro tenho só que mandar uma mensagem...

"Não imaginas como fiquei feliz ao encontrar o teu bilhete! Enquanto me deixares, o meu toque continuará a cobrir de carícias a tua pele suave e alva..."