O alívio dessa estranha liberdade
De não ter segredos nem fantasmas
Poder viver a cumplicidade
Sem artifícios nem manhas
Sorrir, simplesmente
Recostar e apreciar
Fechar os olhos, abrir a mente
Abrir as asas e sonhar
28 November 2005
10 November 2005
Estavam separados
Estavam separados. E ela tinha saudades. Queria ligar-lhe. Ouvir a voz dele, dizer-lhe o que sentia. Mas não podia. Não por estarem longe. Não por estar no estrangeiro e as chamadas serem caras. Não. Mas sim porque não queria fazê-lo sofrer. Porque sabia que essas chamadas que a ela lhe davam alento e a faziam sentir-se bem, a ele abatiam-no, e faziam-no sofrer. Porque lhe lembravam como estavam separados. E como não sabiam quando se voltariam a ver. Se daí a um mês, se daí a três. E então as chamadas perdiam o gosto. Porque quando ela tentava dizer-lhe o que sentia, ele desconversava. Porque eram diferentes. Porque ela, estranhamente, precisava dessa dor. E ele não. Ele queria evitá-la. Preferia dizer piadas. Manter a conversa leve. Porque queria ouvi-la rir. E não pensar nela triste. Mas ela precisava de o dizer. E de o ouvir. Ou sentir. Precisava sentir as saudades dele. Mas não queria que ele sofresse. Então refugiava-se na escrita. Mandava-lhe mensagens, de vez em quando. Porque ele por escrito, por vezes, conseguia responder. E o que não mandava por mensagem, escrevia no caderno e esperava que lhe chegasse por telepatia. Ou por empatia. Ou por amor. E de vez em quando, quando o coração apertava demais e se recusava a acalmar, lá lhe ligava, e tentava lembrar-se do ponto de vista dele, e não se sentir magoada. E aproveitar as gargalhadas que ele lhe proporcionava. E apreciar a voz dele. E sonhar, ao som dessa voz. Sonhar com o dia em que estariam juntos de novo. E sorrir, esperando que do outro lado da linha estivesse um sorriso também. Apesar de tudo. E desligar feliz, perdida algures entre cá e lá.
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