12 March 2011

Amizades - III


Não sei até que ponto te apercebeste do quão importante foi a tua amizade numa altura turbulenta da minha vida. Em parte, porque nunca te falei desses tumultos. Nunca senti necessidade; não eram para ali chamados. Porque contigo estava noutro mundo, longe desses reboliços da escola. Num mundo de saltos, treino, competição, mayllots... mas também de bom-senso, pedagogia, aprendizagem... Na frente da carrinha do clube, enquanto o pessoal dormia ou brincava lá atrás, discutíamos as atitudes dos outros treinadores e ginastas quase tanto como a execução e dificuldade das séries que levavam a prova, ou as pontuações.

Nem tudo eram rosas. Houve alturas em que me levaste aos arames, e me tiraste do sério – e informei-te disso alto e bom som, com os gritos e as lágrimas que me saem em momentos de profunda irritação. Agora que penso nisso, deve ter havido momentos em que te fiz desesperar, também, quando um medo infundado me impedia de fazer o que querias, ou de tentar sequer.

Apesar disso – ou talvez em parte por causa disso – ajudaste-me a arranjar estratégias para ultrapassar os nervos – ou melhor, para os canalizar de forma útil, como aprendemos juntos que era preferível. Deste-me um lugar seguro, onde ser eu própria. Reconheceste a minha dedicação, e a minha ligação a alguns dos miúdos, e puseste-a a uso para o bem de todos os envolvidos. Davas-me boleia na tua mota uma vez por semana para que pudesse ter mais um treino, e nunca gozaste comigo quando no Inverno – e por insistência da minha mãe – levava vestido o fato de mota que tinha sido do meu pai, e que me ficava comicamente grande.

Acima de tudo, e apesar de me conheceres desde os meus 10 anos, e de me teres visto crescer, apercebeste-te de que tinha crescido, e a certa altura começaste a tratar-me de igual para igual. Passámos a ser amigos. Ensinaste-me muita coisa, mas sobretudo deste-me espaço para ser confiante. Na altura não o sabíamos, mas estávamos a criar memórias que provavelmente vão ficar comigo o resto da vida, e ser reavivadas sempre que vejo um dos poucos filmes que tenho de campeonatos e saraus. Emoções que são reavivadas quando vejo os trampolins nos olímpicos, na TV... Sim, que deixei de saltar há anos, mas ainda sonho regularmente com os trampolins... e acho que em parte isso também é culpa tua!

Amizades - II


Há bocado estava a ouvir um CD do Luís Represas, e lembrei-me de ti. De me teres gravado um CD duplo de um concerto dele no CCB, depois de o termos ouvido juntos no teu carro, a caminho da faculdade.

Não sei se alguma vez te disse, mas gostava dessas boleias. Estavas sempre bem-disposto de manhã – mesmo quando a vida não te corria de feição – e punhas-me a mim bem disposta. Conversávamos sobre tudo e nada. Nunca faltava tema, a conversa fluía simplesmente. E chegávamos à faculdade sorridentes, antes das oito da manhã.

Se chegávamos excepcionalmente cedo, ainda ficávamos mais um bocado no carro, a conversar. Depois saíamos, cada um para o seu curso, as suas aulas, o seu grupo de amigos. Cruzávamo-nos de vez em quando (sobretudo no período em que namoraste uma rapariga do meu curso), cumprimentávamo-nos e tal, mas não falávamos, propriamente, fora dessas boleias matinais. Talvez seja por isso que perdemos o contacto quando acabámos os cursos...

Da última vez que te vi, por acaso, num regresso à faculdade, estavas magríssimo, e deste a entender que tinhas tido problemas graves de saúde... Espero que os tenhas ultrapassado, e que estejas algures a realizar o teu potencial. Todos os anos, na passagem de ano – que é também o teu aniversário – penso: Que é feito de ti?

Amizades - I

Tenho sido uma amiga desnaturada. Pródiga em promessas por cumprir, e parca em contacto. Sei – ou acho que sei – que não me levas a mal, mas eu levo a mal a mim mesma.

Se te dissesse a quantidade de vezes que penso em ti, acho que não acreditavas. A quantidade de coisas que leio e penso que te interessariam, ou que gostarias de ler. Coisas que gostaria de discutir contigo.

Então porque estou a escrever isto, em vez de estar a dizer-to? Estou longe, mas tenho telefone. Só que... de alguma forma bizarra, lembro-me de ti n vezes ao dia, enquanto estou no trabalho, mas depois quando estou em casa distraio-me a fazer outras coisas, e não me lembro de te telefonar. Ou lembro-me tarde e a más horas, quando já estás a dormir. Como agora...

A ver se amanhã te telefono...