17 January 2008

Gosto

Chocolate negro, a derreter. À temperatura do corpo humano (não sabias mesmo?). Persegue-lo com a língua, enquanto me faz desenhos sobre a pele branca.

Sal a secar, devagar, ao sol. O que resta do sal do mar que escorreu do teu cabelo para os meus lábios quando nos abraçámos. Agora forma cristais, sarapintando de branco a tua pele morena. Mas o padrão é quebrado por uma linha cintilante, traçada pelo percurso da minha língua no teu peito.

Sabes-me sempre a mar. Apesar de não irmos à praia há meses. Sabes-me a fresco, apesar de estares sempre mais quente que eu. Desde a primeira vez que te provei, naquela noite... inesperada. Ficaste-me gravado na memória da língua. E ela lembra-se, e tenho o prazer da antecipação. O prazer de saber o toque polido que vou encontrar no teu ouvido. Do calor húmido da tua boca, que me convida. A suavidade antecipada das tuas pálpebras de encontro aos meus lábios, antes mesmo de as beijar. O comprimento exacto dos teus dedos que conheço antes de os percorrer, como conheço a forma como se vão dobrar.

Sei os contornos do teu corpo, antevejo cada curva, conheço-te as medidas pelo paladar. Pela textura, pela temperatura, pelo sabor, pelo arrepiar. E, no entanto, não me canso nunca de te explorar. De confirmar o sabor de cada célula, e traçar desenhos na tua pele, tremeluzentes ao luar. De olhos fechados, sorvendo-te. E manter viva essa memória, torná-la presente e não passado. E selá-la com um beijo molhado.

4 comments:

  1. Eu sabia que o paladar ia ser excelente... só tenho a reclamar do chcolate negro ali no início, mas eu entendo! lol

    Gostei muito!! :)***

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  2. Hey... gostos não se discutem... mas obrigada na mesma!;)

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  3. Soube muito bem a leitura deste teu gosto!

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  4. Gostei da escolha de palavras :)
    Obrigada

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